quinta-feira, 31 de março de 2011

AVC: onde entra a Terapia da Fala?

Comemora-se hoje, 31 de Março, o Dia Nacional do Acidente Vascular Cerebral. A cada hora, dois portugueses morrem em consequência de um Acidente Vascular Cerebral e 50% dos que sobrevivem, ficam com limitações que comprometem significativamente a sua qualidade de vida. Estas limitações afectarão, não só a pessoa que teve o AVC, mas também todas as pessoas que constituem o seu círculo familiar e de amigos.

De entre as possíveis consequências de um AVC (e.g. motoras, psicológicas), as alterações da fala, linguagem, comunicação e deglutição são as que mais frequentemente levam à procura de um terapeuta da fala.

A afasia é uma alteração da linguagem que ocorre na maioria dos casos de AVC no hemisfério esquerdo (hemisfério dominante para a linguagem). Assim, e de forma muito simples, vários cenários podem ocorrer: a pessoa pode ficar com dificuldades em exprimir-se, em compreender o que os outros lhe dizem, ou ambos, variando o grau de gravidade de cada uma das situações. Acrescento que, contudo, uma pessoa com afasia não perdeu a sua capacidade cognitiva! Essa capacidade está mantida e a pessoa continua tão inteligente quanto era no momento anterior ao AVC, o que se alterou, foi a sua capacidade de utilizar/compreender a linguagem. A título de comparação, imagine que chegou a um país estrangeiro, cuja língua desconhece e onde ninguém fala a sua língua: manteve-se inteligente, consegue fazer os movimentos necessários à fala, mas simplesmente não reúne no seu cérebro as bases da linguagem que lhe permitiriam comunicar com os falantes desse país.

A afasia pode ocorrer concomitantemente, ou não, com alterações da fala. As alterações da fala isoladas (disartria e/ou apraxia) surgem quando o AVC lesou uma das áreas motoras responsáveis pelos movimentos dos músculos orofaciais (e.g. lábios, língua, bochechas, mandíbula). Esta lesão causará uma dificuldade em efectuar e/ou coordenar os movimentos necessários à fala, comprometendo a capacidade de se expressar através dela.

Nas situações de afasia, o terapeuta da fala intervirá directamente ao nível das dificuldades encontradas e promovendo a capacidade de comunicação, através do ensino, treino e partilha de estratégias comunicativas com o paciente e a família/amigos.

Depois de compreender porquê que a fala pode ficar alterada depois de um AVC, será fácil perceber por que motivo também a capacidade deglutição se poderá alterar – as estruturas que utilizamos para deglutir, são comuns às estruturas que usamos para falar. Cerca de 51% a 71% das pessoas que sofreram um AVC ficam com perturbações da deglutição (disfagia). Podem, então, surgir dificuldades na mastigação, no encerramento dos lábios mantendo a comida dentro da boca, nos movimentos da língua necessários para envolver o alimento, no reflexo de deglutição (não conseguir engolir), nos movimentos da faringe necessários para levar o alimento para o esófago, podendo ocorrer ainda regurgitação nasal (saída de alimento pelo nariz). As duas principais consequências para o bem-estar da pessoa, estendem-se para além do facto de esta não conseguir obter prazer através da alimentação. Se por um lado o estado nutricional e de hidratação fica comprometido, existe o risco de o alimento entrar nos pulmões (aspiração pulmonar), causando pneumonias de aspiração graves, que nos casos mais graves levam à morte. Torna-se, portanto, essencial que todas as pessoas que sofreram um AVC sejam avaliadas por um terapeuta da fala especializado em disfagia (perturbações da deglutição), de forma a excluir os riscos mencionados, e garantir uma recuperação mais rápida.


Cuide bem de si e sorria, é possível prevenir o AVC! Aqui ficam algumas dicas:

  • Mantenha uma dieta saudável, garantindo que o seu peso se encontra dentro dos limites esperados – excesso de peso aumenta o risco de AVC;
  • Seja activo – a actividade física regular pode ajudá-lo a controlar o peso e níveis de colesterol e pressão sanguínea dentro do normal;
  • Evite fumar – o tabagismo aumenta o risco de AVC;
  • Limite a ingestão de álcool;
  • Conheça os sinais e sintomas de AVC e em qualquer caso de suspeita, contacte o 112;
  • Se tem antecedentes familiares, redobre a sua atenção, monitorizando a sua pressão sanguínea, os níveis de colesterol e glicémia regularmente.

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